Às Vezes Lyrics

Às vezes ou inundado por um sentimento de não concretização

De não aceitação

Apenas de negação

Que nunca serei feliz

E penso:

Não importa se consiga o que consiga

Se a semente sobe a subida

Se só ando nesta corrida

Ou se floresço numa amplitude de pétalas

Continuarei eu a ser a terra?

Frio, escuro e sem sal

Sem vida e sem fim

Rodeado de sementes e outras plantas

Que uma a uma la vão florescendo

E eu não,

Eu fico aqui

E eu não,

Não entendo

Não entendo se o beijo que te dei foi meu de te o dar

Se o sol brota em ti os sentimentos que em mim fizeste brotar

Ou se sou artificial no meio de tanto verde

Bem me quero mas mal me queres tu

E padeço eu, doente

Pois espero, paciente

Para saber se a esperança é a última a morrer

Terá sido ela a última a nascer?

Quem botou em mim seus olhos

Quem fortalece o meu coração

Quem faz neste campo as estradas, caminhos e ruas

Que te levarão às cearas do futuro pão?

Que horizonte é a imaginação

Que futuro tens tu que eu não?

E porque não?

Porque é que me inunda os sentimentos de não concretização?

Porque caem as folhas da árvore

Porque correm os rios para a foz

Porque chilreiam os pássaros durante o verão

Será que não saberão?

Será que não lhes foi dito o que a mim foi entregue sem nenhuma cerimónia

Será que todos se esqueceram a sua própria história?

Os girassóis vão continuar a rodar

E aih! quanto eu os invejo

Quanto o meu coração só quis o inverno

Quão forte fora o vento no dia que me plantaram

Quão gélido era o frio do coração que na terra me colocou

As raízes,

Varizes,

Juízes,

A semente é divina

Mas no céu deus não está

Pois se engane quem assim o acha

Se é do solo que vimos

Então é para o solo que o caixão se baixa

E é nesse solo que Ele realmente está

E muito cedo nós o acompanhamos

Mas até então lá nos enganamos

Vamos enchendo os olhos

Com a ciência das mitocôndrias

Da fotossíntese

Das clorofilas

Dos cloroplastos

Emplastros

Carros

Motas

Filas

E filas

E mais filas

Sai da frente pá!

Com o quotidiano que nos arrasta

Que nos atrasa

E que nos afasta

Da semente que na terra vasta

Basta estar

P'ra viver

Para fazer o futuro nascer

A partir do presente

E que nos presenteia, no fim

Com o morrer

Às vezes sou inundado com sentimentos de não concretização

E os dias passam

E assim passarão

Do que sou feito,

Já nego não

Às vezes sou o solo

Às vezes sou a pequena semente

Ou o sol que radia contente

Às vezes sou génio

Com coração de doente